Sinopse
Em seu livro de estreia, o autor traz poemas que, embora de temática aparentemente diversa, carregam consigo a peculiaridade de partilharem da mesma cena oculta: a angústia. Há uma dose dela em cada página. Não se trata, no entanto, de cantá-la pelo simples gozo de cantá-la. Há algo aqui que produz efeito de elaboração de um conteúdo subjetivo. A angústia não se coloca como fim em si mesma, ao modo das musas inspiradoras. Ela se apresenta enquanto causa. Causa que impulsiona para um outro lugar. A operação que se dá com o conteúdo aqui posto faz com que ele não retorne de mesma maneira para seu criador após ser elaborado dentro de uma determinada estética. Em verdade, encontrar uma estética própria para falar da angústia, ou uma estética para falar da angústia própria, tal a tentativa da poesia encontrada nesta obra. Algo que, após dito, resta suprassumido (no sentido hegeliano do termo) pelo fato de ser dito. E dito poeticamente. Usar a angústia como um centro gravitacional, fazendo com que seus orbitantes consigam sustentar uma rota elíptica graças a ela. Coisas que retornam sempre para um mesmo lugar, só que mais além. Um encontro não marcado entre o estranho e o familiar, fazendo aparecer o novo. Dessa conformação, também exsurge para o leitor, ao menos como objetivo, um efeito provocador e interpelante. Daí eventual desconforto, que é nada mais que, em certa medida, um desconforto de posição subjetiva. Nada a temer, a não ser nós mesmos. Nada de mais, a não ser nós mesmos, que precisamos urgentemente sermos iguais, mas a partir de outro lugar.