Lida Campeira

  • Autor: Zebino Brasil Pereira
  • Editora: Editora Appris

Sinopse

Afazeres concernentes à atividade rural, além da vida normal em campanha.
Em minhas andanças pelo nosso lindo Rio Grande do Sul, durante minhas pescarias e caçadas, tive a oportunidade de, na cruzada, passar por pontos comerciais, então chamados bolichos de campanha. Nesses bolichos, também, seguindo a sua denominação, especificava que era de SECOS E MOLHADOS. Ali, se abasteciam, praticamente, toda a vizinhança rural, bem como servia de ponto de entrega de alguma correspondência ou encomenda, deixada pelo Correio. Encontra-se ali, por exemplo, temperos, os mais variados, pimenta do reino (moída ou em grãos), chás de boldo, camomila, melhoral (AAS), aspirina, mertiolate, pomadas e unguentos, erva mate, café, curativos (tipo band-aid, gaze, algodão, água oxigenada), querosene, velas, e, ainda, tecidos (brim, infestados, vendidos em metro) para confecção de calças e bombachas, linha, fitas e, ainda, bijuterias, agulha de mão, alpargatas, tamancos, chinelos de couro, botas, facas, facões, enxadas, pás, cachaça a varejo, etc... E, então, ao pedir licença para caçar ou pescar, fui conhecendo várias fazendas. Observando a lida desenvolvida, fui me apaixonando pelo campo e fazendo grandes amizades com o pessoal campeiro.
Em todas elas sempre fui muito bem recebido, inclusive convidado à mesa. A hospitalidade é uma marca registrada do gaúcho. Recebem-nos sempre com muita alegria, quando, então, não faltava o "seja bem-vindo, passe pra frente". Não tinha como recusar tal convite, além de ficar por demais agradecido pela franquia dos campos e dos açudes.
As pessoas rurais conservam, até os dias atuais, os ensinamentos familiares recebidos, de modo que a cada lugar em que chegávamos, tratavam-nos com muita cordialidade, o que sempre nos deixou muito alegres e, sobretudo, honrados.
Em minhas caçadas e pescarias sempre levei junto os meus 2 filhos. Dormíamos em barracas à beira d'água ou em capões. Como sempre levávamos o necessário para "boiar"; não faltava espetos e uma grelha, a fim de esquentar água para o chimarrão e o fogo para o churrasco. Desde cedo eles puderam sentir o ar de liberdade, e o respeito à natureza.
A lenha para o fogo de chão, recolhíamos do mato; porém, jamais queimávamos uma trama do alambrado, nem cortávamos alguma árvore.
As atividades humanas, obedecem, em princípio, as tendências de cada um. Feliz é aquele que consegue trabalhar no que mais lhe agrada. Diz-se, até, que quem faz o que gosta, nem precisa trabalhar. Não sei, e peço desculpas, a quem falou isso. Mas, vejamos, a pessoa que labuta com gosto, naquilo que faz, é um vivente realizado. É uma pessoa que fará, certamente, o melhor trabalho que possa realizar, pois, como diziam os antigos, é bem feito porque o certo é ficar bem feito. Não admitiam que seu trabalho ficasse em desacordo com a perfeição e a funcionalidade necessárias. E isso, não queria dizer que o artífice era o melhor, senão que devia apresentar o melhor trabalho realizado, de modo a satisfazer a sua arte, ou, porventura, alguma encomenda.
A vida no campo, apesar de árdua, constitui-se em tarefas tais quais outras quaisquer. Atividade, desempenho, observação, conhecimento, determinação e ação.
O campeiro, por dever de ofício, acaba por reconhecer qualquer alteração na lida normal. Daí, o desenrolar do seu trabalho, no reconhecimento de qualquer eventualidade.